sábado, 8 de dezembro de 2012

Homenagem ao malandro

Plagiei Carlos Drummond de Andrade, ao homenagear o maior picareta da história deste país...

LUÍS

E agora, Luís?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Luís?
e agora, você?
você que é sem caráter,
que zomba dos outros,
você que faz piada,
que ignora quem protesta,
e agora, Luís?

Está sem poder,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o mensalão não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Luís?

E agora, Luís?
Sua amarga palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua grande adega,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Sem a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Garanhuns,
Garanhuns não há mais.
Luís, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Luís!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem sua quadrilha,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, Luís!
Luís, para onde?

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